A biossegurança deve ser um compromisso diário do farmacêutico esteta. Embora os procedimentos estéticos sejam seguros, eles envolvem riscos consideráveis tanto para o profissional quanto para o paciente. A exposição a fluidos biológicos, materiais perfurocortantes e microrganismos patogênicos exige medidas rigorosas de higiene, esterilização e controle de resíduos em todas as etapas do atendimento.
“Ambientes seguros, limpos e bem equipados transmitem seriedade, responsabilidade e cuidado”, afirma a professora do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e membro do Grupo de Trabalho de Farmácia Estética do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Layane Glaciely. Segundo ela, o cumprimento das normas de biossegurança é um fator que impacta diretamente na confiança do paciente e nos resultados clínicos: “isso aumenta a credibilidade e a fidelização do cliente, além de melhorar o prognóstico e a recuperação, prevenindo infecções e complicações de saúde”.
Biossegurança, em sua essência, significa segurança da vida. Trata-se do conjunto de medidas e práticas que têm como objetivo evitar qualquer tipo de contaminação que possa comprometer a saúde humana — seja por contato direto durante um procedimento ou de forma indireta, via ambiente ou superfícies contaminadas.
No contexto da farmácia estética, essas medidas se aplicam tanto ao espaço físico quanto aos comportamentos e técnicas utilizados na prática clínica. A negligência nesse campo pode gerar quatro tipos principais de riscos: biológicos (exposição a vírus, bactérias e fungos), situacionais (relacionados a ferramentas e equipamentos), operacionais (decorrentes de ações mal planejadas) e comportamentais (ligados à omissão e falhas humanas).
Protocolos que fazem a diferença
Segundo Layane Glaciely, o farmacêutico esteta deve seguir protocolos específicos para garantir um ambiente livre de riscos. “A higienização das mãos antes e após cada atendimento, o uso de EPIs, a desinfecção do ambiente, a assepsia da pele do paciente e a esterilização rigorosa dos instrumentos são práticas obrigatórias”, enumera.
Esses cuidados são ainda mais cruciais nos procedimentos injetáveis estéticos, como microagulhamento, preenchimento dérmico, aplicação de toxina botulínica, carboxiterapia, mesoterapia e criolipólise. Esses métodos envolvem contato com mucosas e fluidos, aumentando o risco de infecções cruzadas.
Cuidados com materiais e superfícies
Os instrumentos reutilizáveis precisam ar por um processo rigoroso de limpeza, desinfecção e esterilização. “A remoção de sujidades com água corrente e detergente enzimático deve ser seguida pela esterilização, preferencialmente em autoclave”, orienta Layane.
Para garantir a assepsia do ambiente, superfícies e equipamentos precisam ser desinfetados com frequência, toalhas e lençóis devem ser trocados a cada atendimento, e a clínica deve dispor de pisos e paredes lisos e impermeáveis, que evitem o acúmulo de microrganismos.
A mesa auxiliar, a maca e os utensílios utilizados em cada procedimento precisam estar esterilizados e preparados de forma segura. “Todos os utensílios têm que estar esterilizados para não haver nenhum tipo de contaminação, desde a recepção até o atendimento final”, completa a farmacêutica.
Resíduos: descarte seguro é obrigatório
Um dos aspectos mais críticos da biossegurança é o gerenciamento de resíduos. O descarte inadequado pode causar contaminação do ambiente e de pessoas, sendo regulamentado pela RDC 222/2018 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entre os resíduos gerados estão os perfurocortantes, como agulhas e lâminas, que devem ser descartados em coletores rígidos e específicos; e os resíduos biológicos, como sangue e gazes, que precisam ser colocados em sacos brancos com símbolo de risco biológico.
“A coleta deve ser feita por empresas especializadas ou pelo próprio serviço de limpeza urbana autorizado. Os resíduos não podem ser misturados com lixo comum”, ressalta Layane. A profissional lembra ainda que medicamentos vencidos ou sobras de substâncias também exigem atenção especial e devem ser encaminhados a empresas licenciadas para descarte.
Receba nossas notícias por e-mail: Cadastre aqui seu endereço eletrônico para receber nossas matérias diariamente
Durante o acondicionamento, os sacos devem ser resistentes a puncturas e colocados em lixeiras com tampa sem contato manual. A identificação precisa ser clara e visível, com símbolos e cores específicas para cada tipo de resíduo.
Estrutura da clínica também importa
A segurança também está na infraestrutura do local. A maca deve ter superfície lisa, lavável e estar protegida por lençol descartável (TNT ou papel), trocado a cada atendimento. As roupas utilizadas nos procedimentos devem ser específicas para o ambiente clínico. “Sempre colocamos touca, propés e avental cirúrgico tanto no paciente quanto nos profissionais”, explica Layane.
Além disso, o uso de bandejas estéreis para apoiar seringas e cânulas e o controle de o ao ambiente de atendimento são medidas complementares importantes.
Intercorrências: preparo e reação rápida
Mesmo com todos os cuidados, intercorrências podem ocorrer — e o profissional deve estar preparado para agir com conhecimento e segurança. “É preciso dominar o conteúdo científico e anatômico para orientar corretamente o paciente e escolher o melhor plano de tratamento em casos adversos”, afirma Layane.
O domínio sobre as substâncias utilizadas, técnicas de aplicação e reações possíveis é imprescindível. “Não se pode esperar para aprender a reverter uma intercorrência somente quando ela acontecer. É necessário se antecipar”, alerta a professora do ICTQ.
Essa preparação também inclui saber como reagir a uma alergia ou infecção inesperada, além de manter alternativas viáveis para reversão de efeitos indesejados. Isso fortalece a imagem do profissional e evita possíveis complicações legais.
Regulamentação e responsabilidade
Além das práticas clínicas, os estabelecimentos precisam atender às exigências legais de funcionamento, incluindo a licença sanitária, o cumprimento da RDC 50/2002 e RDC 63/2011 da Anvisa e o desenvolvimento de Procedimentos Operacionais Padrão (POPs). Esses documentos descrevem, o a o, como devem ser realizados os atendimentos, a higienização e o descarte de resíduos.
“O cumprimento rigoroso dessas normas fortalece a reputação do profissional e evita notificações e sanções dos órgãos de fiscalização”, conclui Layane Glaciely.
Portanto, na farmácia estética, biossegurança não é apenas uma exigência legal — é uma ferramenta essencial para garantir qualidade, credibilidade e, sobretudo, segurança em todos os atendimentos.
Resumo das Normas da Anvisa:
- RDC 222/2018: Dispõe sobre o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.
- RDC 50/2002 e RDC 63/2011: Estabelecem diretrizes sobre infraestrutura, funcionamento e biossegurança em serviços de saúde.
- Nota Técnica 2/2024 Anvisa: esclarecimento sobre os serviços de estética e atendimento às normas sanitárias aplicáveis a esses serviços
Capacitação farmacêutica
Para quem quer atuar na área, o ICTQ oferece a Pós-Graduação Estética Avançada: Procedimentos, Consultório e Gestão, que aborda temas como: Cosmetologia Aplicada à Estética Facial e Corporal; Fototerapia Aplicada à Estética; Eletroterapia Aplicada à Estética; Tricologia Básica; Intradermoterapia Facial e Corporal; procedimentos injetáveis estéticos (Microagulhamento, Skinbooster, Carboxiterapia, Ozonioterapia, PEIM) Carboxiterapia; Harmonização Facial (Preenchimento, Toxina Botulínica, Bioestimuladores de Colágeno e Fios De Sustentação); Anatomia Facial e Corporal; Fisiopatologia das Disfunções Estéticas; Anamnese; Semiologia e Avaliação; Biossegurança, Assepsia, Esterilização e Regulamentação, entre outros
Para saber mais, clique AQUI.
Participe também: Grupos de WhatsApp e Telegram para receber notícias
Obrigado por apoiar o jornalismo profissional
A missão da Agência de notícias do ICTQ é levar informação confiável e relevante para ajudar os leitores a compreender melhor o universo farmacêutico. O leitor tem o ilimitado às reportagens, artigos, fotos, vídeos e áudios publicados e produzidos, de forma independente, pela redação da Instituição. Sua reprodução é permitida, desde que citada a fonte. O ICTQ é o principal responsável pela especialização farmacêutica no Brasil. Muito obrigado por escolher a Instituição para se informar.